About Me

Desde 2020, aqui no Caffe Librarium, compartilho minhas descobertas e insights sobre o fascinante universo da cultura pop, minha jornada de aprendizado conectando diversos universos.

Sou estudante de Jornalismo, formada em Marketing. Sempre em busca de novos saberes, como cinema e trabalhos com o texto, filosofia e outras coisitas.

Quando não estou imersa na vida acadêmica, me encontro entre pilhas de livros e café, ou entregue a boas doses de vinho e quadrinhos, desbravando novos universos.

Uma raposa orgulhosamente da Sonserina e uma padawan em ascensão.

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Narrativa Épica e a Herança nos Quadrinhos de Super-heróis



Hoje o café vem com sabor de pesquisa! Se você já se pegou torcendo por um herói, vibrando com suas conquistas ou segurando o fôlego diante de desafios impossíveis, então você já conhece o épico — mesmo que sem perceber. Mas e o mito?


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Épico x Mito?

Embora os termos “mito” e “épico” apareçam associados, eles não significam a mesma coisa. O mito refere-se às histórias tradicionais que explicam fenômenos, valores e origens, são valores simbólicos transmitidos a fim de tentar explicar o mundo e seus fenômenos. Dessa forma, podemos distinguir da seguinte forma: o mito traz o conteúdo simbólico, enquanto o épico é o modo ou gênero pelo qual essa história é narrada, destacando a magnitude, os desafios e a jornada do herói.

Nos quadrinhos, os heróis modernos assumem essa dupla função: incorporam mitos antigos, carregados de significado simbólico, e os narram com tom épico, transformando seus arcos em jornadas grandiosas que conectam o passado ao presente.


Dependemos, muito mais do que imaginamos, das mensagens trazidas por esses símbolos, e tanto as nossas atitudes quanto o nosso comportamento são profundamente influenciados por elas.          – Carl Jung


O Que Temos de Herança nos Quadrinhos?

Os quadrinhos podem ser vistos como uma construção de mitos modernos, que herdam muitos elementos dos contos épicos clássicos, adaptando-os a novos contextos e linguagens. Joseph Knowles (2008) observa que “os super-heróis vieram ocupar, em nossa sociedade moderna, o papel que os deuses e semideuses representaram para os antigos”.

Os super-heróis, assumem a responsabilidade da narrativa mítica com uma nova roupagem em sua estrutura e nova forma de apresentação, mantendo algumas de suas principais características; o simbolismo e a jornada do herói. O Mito moderno é composto pelo herói que lida com dilemas pessoais, luta contra a criminalidade, corrupção e explora aspectos da própria identidade. 

Dos mitos antigos conhecemos Hércules e sua força divina, herança de seu pai Zeus, outros nomes também permeiam o nosso imaginário como Gilgamesh, Perseu, Aquiles, Osíris, etc. Nossos deuses modernos são Superman, Batman, Flash, Hulk e tantos outros heróis que contam com habilidades excepcionais que os auxiliam no combate contra forças poderosas além da Terra, seja essa excepcionalidade física ou intelectual, desde o nascimento ou adquirida, pelo acaso ou destino.

EM OUTRAS PALAVRAS... Os super-heróis são mitos modernos (conteúdo) narrados de forma épica (modo). Eles carregam simbolismos, valores, arquétipos → mitoSuas histórias são contadas como grandes jornadas heróicas → épico. Mito= o que se conta. Épico= como se conta.{alertInfo}

 

Mitos Modernos x Mitos do Passado

No mito contemporâneo, ainda preservamos a luta do bem x o mal, mas muitas outras camadas são desnudadas em novas edições com foco nos temas atuais, não tentando explicá-los, mas expondo-os para uma reflexão consciente, no sentido de olhar para nós e além de nós, como indivíduos e parte integrante de uma sociedade e suas complexas relações e problemas. Nesse ponto, encontramos o que nos distancia do modo narrativo dos antigos.

Nosso modo de olhar o mundo é modificado e, consequentemente, a nossa relação com a narrativa também sofre alterações. Nossos novos deuses não são maniqueístas; não apresentam somente bondade, mas se subvertem e estão cobertos tanto de luz quanto de sombras. Não são egoístas, mas são homens/mulheres em prol da sociedade.


Jung e o Mito sob o Olhar da Psicologia Analítica

Segundo Carl Gustav Jung (2002), os mitos são manifestações do inconsciente coletivo, carregando arquétipos universais que refletem padrões de comportamento, desafios e valores humanos compartilhados ao longo do tempo e das culturas. Mais do que explicar literalmente o mundo, eles funcionam como veículos simbólicos, transmitindo significados profundos e oferecendo modelos para a compreensão da experiência humana. Nesse sentido, os heróis míticos representam não apenas figuras externas de coragem e força, mas também espelhos da jornada interna de cada indivíduo, guiando a reflexão sobre a identidade, a moralidade e a integração dos opostos da psique.

A nossa visão sobre o mito começa a ganhar novos contornos, se antes a função do mito visava primordialmente explicar, acomodar e tranquilizar o homem em um mundo assustador[ᴬ], hoje ele cumpre o duplo papel simbólico, se apresentando como um convite à reflexão sobre nós mesmos e sobre o mundo ao nosso redor.

Assim, os mitos não somente explicam ou conectam experiências humanas, mas orientam nossa forma de narrar e interpretar o presente, seja em histórias orais, registros visuais e, etc. Nós, seres humanos, somos naturalmente comunicativos e criativos, buscando transmitir significados e perpetuar tradições. Se antes a expressão era oral, em volta de uma fogueira, ou gravada nas paredes para registrar conhecimento, hoje contamos com textos, imagens, cinema e tantas outras formas artísticas que mantêm o elo entre passado, presente e futuro, permitindo que nossas lições e reflexões ecoem para as próximas gerações.

Queremos que frases como a célebre do cabeça de teia, “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”, continuem atravessando o plano simbólico, tocando o espaço reflexivo dos leitores e transmitindo valores que podem ser apreendidos e repassados, mantendo viva a tradição de ensinar e inspirar.

Aprendemos com essas narrativas, inspiramos outros e nos conectamos, mostrando que, mesmo hoje, o mito mantém sua função essencial: comunicar, orientar e provocar reflexão.

Além disso, a narrativa gráfica oferece múltiplas possibilidades expressivas, combinando texto, imagem e símbolos visuais para impactar o leitor. Will Eisner, pioneiro da 9ª Arte, afirmava que “a tira de quadrinhos não é mais uma tira de quadrinhos, mas, na verdade, um romance ilustrado”, uma novela gráfica que possui poderes de mudar realidades e transformar mundos.

Portanto, os quadrinhos representam uma continuação e atualização do conto épico. Preservam a função do mito como forma de comunicação, inspiração e construção de significado, reafirmando símbolos e consolidando-se no imaginário moderno.


Notas de Rodapé:

JUNG, Carl G. O Homem e seus Símbolos.Rio de Janeiro, 2002. 3° Ed. Página 138.
KNOWLES, Christopher. Nossos Deuses são Heróis. 2007. Página 19.
CAMPBELL, Joseph. O Héroi de Mil Faces. São Paulo.1° Ed. de 1989.

[A]. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Editora Moderna.

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